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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Coração ardente

Pousou em meio às rochas. Suas asas se fecharam, seu corpo começava a se esfriar. O peso dos anos fazia suas penas se esfarelarem e sua chama amiudar. Percebeu que era a hora da partida. Olhou para o céu estrelado, morrer era uma das leis da natureza, mas nem por isso era algo bom. Guinchou fracamente, seu fogo apagou, seu corpo caiu no chão e se transformou em cinzas negras.
Após alguns segundos, as partículas das cinzas começaram a se agitar a ponto de queimarem. Juntaram-se em um redemoinho de fogo para formar um novo ser. Das chamas surgiu uma nova ave a piar sons melancólicos.

Abriu as asas e alçou voo para a nova vida.Renascimento Contemporâneo

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Masoquismo

“Onde estou?” e “como vim parar aqui?” foram as primeiras perguntas que surgiram na mente confusa daquele jovem de aparentemente vinte anos. Era branco, com cabelos negros e olhos castanhos, vestia uma camisa branca e um short cinza, a roupa que normalmente usava para ir à praia.
Ele não conseguia ver nada na escuridão. Entendeu que estava na horizontal e tentou se mexer, mas percebeu que os pulsos e tornozelos estavam acorrentados, parecia que ele estava deitado sobre uma mesa de metal.
Estava tremendo por causa do frio que havia no local, o pânico começou a tomar conta do consciente que só encontrava perguntas sem respostas.
Pensou em gritar por socorro, mas, antes disso, conseguiu ver algum movimento na escuridão. Um arrepio percorreu sua espinha e ele ficou paralisado.
O vulto se aproximou num passo lento, a sombra se tornou uma loira de beleza escultural, vestida apenas com uma lingerie preta.
Ela se debruçou sobre ele e o beijou nos lábios. O seu corpo era quente, tinha um perfume adocicado e difícil de distinguir, quase nauseante. O pânico foi substituído por sentimentos menos desesperadores e mais quentes.
Ela sentou-se na barriga dele.
– O que está acontecendo? – Perguntou o jovem.
Mas ela nada respondeu. Pelo contrário, apenas ficou olhando o garoto. Havia algo de maligno naquele meio sorriso e seus olhos verdes pareciam lhe cortar a alma.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Cigarros

Morena de olhos castanhos, cabelos negros como a noite e um corpo perfeito para seus vinte e poucos anos.
Eu sabia que era apenas mais um em sua boca, que em pouco tempo seria outro e eu seria esquecido.
Mas me considerava abençoado por poder morrer em seus lábios. Era ótimo saber que lhe daria prazer nos meus cinco minutos de vida. É como dizem: “melhor queimar do que se apagar aos poucos”.
Ah, se fosse apenas isso...

Também posso me considerar amaldiçoado. Eu entro em seus pulmões e a mato aos poucos, todos nós a matamos. Como é horrível saber que eu machuco a única pessoa que esteve em contato comigo, a única pessoa que sentiu prazer estando comigo...

domingo, 6 de abril de 2014

Velhice

Vidas carregadas, objetivos alcançados, lataria enferrujada.
Qual o sentido da existência de um ônibus que não anda mais?
Fez a vida toda o que a sociedade designou-o a fazer.
E o que ganhou com isso? Vai desmanchar junto com os carros de policia e de bandidos, as ambulâncias e caminhões de lixo, os populares e os que já foram de última geração, os velhos e os antigos novos.
Ter sido um carro de corrida seria mais emocionante? Não importa, era tarde para recomeçar.

O ferro velho é seu destino final.

domingo, 30 de março de 2014

Querida Morte

Terminei de escovar os dentes e me deitei, as seções de quimioterapia me deixavam fraco, precisava ter uma boa noite de sono.
Foi quando a temperatura do quarto começou a cair, meu corpo começou a pesar, só havia escuridão.
 Sempre achei que este dia chegaria – falei em voz alta, para mim mesmo.
 "Este dia" sempre chega, para todos – foi a resposta, vinda de uma voz feminina.
Fiquei surpreso, mas não com medo.
 Há a possibilidade de isto ser apenas um sonho?
 Se for, é o último que terá – ela respondeu novamente, reconhecia aquela voz.
Senti uma mão fria apertar o meu tórax e, logo após, um beijo suave e penetrante em meus lábios. Pude começar a ver através da escuridão, a imagem na minha frente era de uma mulher branca com seus longos cabelos negros e olhos castanhos profundos, como eu bem me lembrava.
 Por que está zombando de mim usando a imagem da minha mulher? – O rosto dela tinha uma expressão triste.
 Mortais não conseguem ver a minha verdadeira forma, então eles costumam ver o que lhes mais lembram a mim.
Notei que podia me mexer com maior facilidade, agora apenas sentia o frio, mas até ele parecia aconchegante.
 Diga-me: irei encontrá-la do outro lado? Quero dizer, minha mulher.
 Isto não cabe a mim responder, eu apenas venho buscar as almas que não tem mais tempo neste mundo... Agora, levante-se, vamos caminhar um pouco.
Levantei, notei que ela usava um vestido preto longo, era uma replica perfeita de quem fora a minha amada. Olhei ao redor e vi meu corpo estendido na cama, ela deve ter notado a minha tristeza.
 Iremos a um lugar  além do meio físico, não precisará mais do seu corpo.
 Mesmo que não tenha sobrado mais ninguém na minha vida, eu ainda sentirei falta disso tudo...
 Tens algum arrependimento? – Disse ela, com uma expressão de curiosidade.
 Muitos. O maior deles é não ter dado importância à família. Eu sempre dei atenção demais à minha carreira e veja como terminei: um velho rico e solitário, se agarrando aos últimos fragmentos de vida.
 É tarde para arrependimentos. O que está feito, está feito. Venha, temos uma bela caminhada pela frente.
Cheguei mais perto dela e estendi a minha mão. Ela a pegou. Por fim, eu disse:
 Tem razão...
Saímos de mãos dadas para o novo mundo que se desdobrava em minha frente.

sábado, 29 de março de 2014

Finais felizes

Sonhos, planos, objetivos feitos em delírios conjugais. Pensamentos que a realidade fez questão de mostrar que estavam errados. Tudo perfeitamente planejado, mas que não deixou de ser apenas um plano que não teve a oportunidade de sair do papel, pior, não teve  nem a oportunidade de sair das mentes juvenis apaixonadas para ir ao papel.